3.11.06

DESIDERATA (Max Ehrmann)

Descobrir a verdadeira história sobre "Desiderata", poema lido e admirado em todo o mundo, para mim foi uma alegria. E foi por acaso numa pequena livraria de Shopping que encontrei a edição de bolso da editora Sextante com o título "Desiderata", comprei-o de imediato um exemplar.

"Desiderata" , desde os anos 50, ficou muitos anos com autoria obscurecida. O encanto do poema levou-o a ser bastante copiado e passado de mão em mão. Chegando a ser confundido sua data de origem com a fundação da igreja de Saint Paul de Baltmore, de 1692 – século XVII, e alimentada por seu pároco, o que lhe adicionava mais encanto.

Nos anos 60, o poema foi parar em São Francisco na época do movimento Hippie, que o adotou supondo ser uma declaração de paz e amor datada de séculos. As gráficas avidamente imprimiram e distribuíram milhões de cartazes e folhetos.

O seu autor Max Ehrmann, nasceu em 26 de setembro de 1872 na cidade de Terre Haute, Estado da Indiana nos Estados Unidos, um advogado que se transformou e viveu até seus últimos dias como filósofo e poeta. Quinto e último filho de imigrantes alemães Maximilian Ehrmann e Margaret Bárbara Lutz.

"...embora buscasse cada vez mais uma posição humanística, Ehrmann nunca perdeu seu respeito por “Jesus, o filósofo” ou a sua fé de que “ o universo está evoluindo como deveria”.

Formou-se na Universidade de DePauw, em Greencastle, Indiana, onde se tornou o redator da revista DePauw Weekly. Após sua graduação em 1894, Ehrmann ingressou na Faculdade de Filosofia da Universidade de Harvard, onde, por dois anos, se especializou em Direito e Filosofia, antes de retornar a Terre Haute, para levar a vida incerta de poeta e filósofo que sempre desejou. Embora tenha sobrevivido durante muitos anos como advogado, em 1912 aos 40 anos, Ehrmann abandonou o mundo dos negócios e se dedicou inteiramente à literatura, a única atividade que sempre achou verdadeiramente gratificante. Passou os últimos 33 anos de sua vida do jeito que sempre idealizou: Poeta e Filósofo.

Descrevia sua cidade Natal, Terre Haute como “ o mundo em miniatura”. Pois prezava as amizades e a tranquilidade que encontrava ali.

O poema "Desiderata", Ehrmann o criou aos 55 anos; segundo ele, o escreveu para si próprio. O poema o acompanhou, em seu bolso, durante muitos meses e lhe serviu de guia em sua incansável busca pela simplicidade, sinceridade e serenidade. Tal como tantas obras de Ehrmann, " Desiderata " surgiu de uma necessidade interior e foi compartilhado com outras pessoas que igualmente ansiavam por bem-estar e confiança.

Em dezembro de 1933, Ehrmann usou " Desiderata " como parte de uma saudação de Natal endereçada aos amigos. Este belo poema serviu também de estímulo aos generais durante a segunda grande guerra, aos psiquiatras no tratamento de seus pacientes. Um Médico Psiquiatra da época, Dr. Merril Moore, descreveu: ... “ele deveria ser engarrafado e vendido como remédio mágico do Dr. Ehrmann”.

Ehrmann faleceu em 9 de setembro de 1945, três meses depois de ser homenageado em Terre Haute, que prestou-lhe um tributo formal, reunindo músicos, professores universitários, artistas e amigos, que deram depoimentos sobre o seu trabalho e a sua vocação de fazer amizades.

Nos anos seguintes, porém a verdadeira autoria desse famoso poema foi resgatada, garantido a Max Ehrmann um lugar eterno na literatura americana. A seguir o poema na íntegra:

DESIDERATA (um caminho para a vida)

Vá placidamente por entre o barulho e a pressa
E lembre-se da paz que pode haver no silêncio.

Sem capitular, procure estar de bem com todas as pessoas
Fale a sua verdade, calma e claramente.
Escute os outros, mesmo os mais estúpidos, os hipócritas e desequilibrados.

Evite pessoas barulhentas e agressivas;
Elas são um tormento para o espírito e às boas relações.
Mas sobretudo, evite o preconceito.
E lembre-se: de tudo aquilo que mais preconceituamos,
trazemos em nós uma faceta latente, camuflada pela hipocrisia.

Desfrute suas conquistas assim como os seus planos.
Mantenha-se interessado em sua carreira.
Mesmo que humilde, é o que realmente se possui
Na sorte incerta dos tempos.

Exercite cautela nos negócios, porque o mundo é cheio de artifícios.
Mas não deixe que isso o torne cego à virtude que existe.
Muitas pessoas lutam incansavelmente por altos ideais,
Mas muitas vezes esquecem a beleza imensa dos seus quintais,
Perdem-se em heroismos vazios e morrem amargas.

Jamais finja afeição, nem seja cínico sobre o amor,
Porque em face de toda a aridez e desencantamento,
Ele é perene como a grama.
Aceite gentilmente o conselho dos anos,
Renunciando com benevolência às coisas da juventude.

Cultive a força do espírito
Para proteger-se num infortúnio inesperado.
Mas não se desgaste com temores imaginários.
É certo que muitos medos nascem da fadiga e da solidão.

Acima de uma benéfica disciplina, seja bondoso consigo mesmo.
Você é filho do universo, não menos nem mais que as estrêlas,
As árvores, os mares, as montanhas...
E quer seja claro ou não para você,
Sem dúvida o universo se desenrola como deveria.

Portanto busque incansavelmente a paz com Deus, com a vida!
E sejam quais forem suas aspirações na barulhenta modernidade,
Mantenha-se em equilíbrio;
Ao menos tente o exercício da compaixão em seu convívio diário.
Apesar de todos os enganos, sonhos desfeitos, decepções e desconfianças,
Este ainda é um mundo maravilhoso!

Esteja atento e perserverante pois a felicidade é um composto de nossos sentimentos,
de nossas verdades e de nossas ações todos os dias em que despertamos.



Max Ehrmann
1927 –Terre Haute - Indiana – USA.

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