26.6.07

"UNIMULTIPLICIDADE"

Este título extraí de um texto do Tom Zé. Esse menestrel alucinado, que tanto
contribui para construção de uma novo tempo para a nação Tupiniquim.

..."Nossa esperança é imortal, se não podemos mudar o começo, vamos mudar o final"


Apesar de toda imortalidade de nossa esperança,
a qual absorvo e creio, vamos caminhando tristes
com todos os escândalos que nos violenta diariamente,
e são expostos nos horários nobres da mídia brasileira.

A discussão sobre violência, corrupção, propinas...
e demais mazelas que são rotinas no país,
já não assustam mais;
pois estamos hipnotisados de tanto horror.

Necessitamos de atitudes de homens justos e limpos,
não de impulsividades de políticos inescrupulosos;
necessitamos de imediatas ações restauradoras,
que nos aponte uma saída desse estado de sítio instalado;
desses horrores diários que assistimos pela Web, ou
nos noticiários das emissoras convencionais.

Batem em nossas faces e nos aniquilam,
sem nos oferecer uma saída decente.
Os poderosos, em suas vestes e
bens possantes, se esganam
e o circo pega fogo:
vacas superfaturadas, notas frias,
poder-pelo-poder, hipocrisias...

A ética foi jogada no lixo por aqueles que deviam efetivá-la.
Sem destino ou propósitos honestos,
infelizmente, Brasília agoniza, atormenta a nação
e envergonha a todos os cidadãos de bem que
com suor, lágrimas e dignidade pagam em dia seus impostos.

Mas apesar de tudo, "minha esperança é imortal"
e "será a minha vingança, o meu carnaval"!
"Não podemos mudar o começo, mas certamente
lá adiante, mudaremos o final".

12.6.07

Os Diamantes de Minas

Certa vez deparei-me com este belo texto de Darcy Ribeiro sobre Minas Gerais,
sua terra natal, em um livreto desses de coletânea que o SESC -MG, vez por outra
nos presenteia, vejam que preciosidade:


Minas para mim, é o chão de ver revendo;
de curtir comendo suas comidas coloridas de urucum;
de procurar no mercado queijo do Serro,
que não tem mais.
Só vendem imitações e uma coalhada dura do gosto dos cariocas.

Minas é meu lugar de ver as mineiras com seu erotismo disfarçado
mas veemente. De descer buracos fundos como o de Morro Velho;
de subir morrarias abruptas como as que cercavam Belo Horizonte
e os japoneses comeram.

Minas para mim, é lugar de procurar o riozinho Tripuí, onde um negro
antigo descobriu as primeiras pepitas de ouro preto.
De passagem dá para ver Ouro Preto, Mariana, Congonhas e outras
criações que os mulatos obraram para nos embasbacar.

Mas Minas é também terra de entristecer muito demais,
vendo minha pátria verde ficar careca porque a canalha derruba
todo o pé de pau para fazer carvão. É sofrer solidário a penúria
do povão mineiro do rio São Franciscão cheio de surubim e piaba,
atravessando desertos antiqüssímos. Agora os querem molhar
para plantar melão e uva.

Minas é a praça da Liberdade, onde eu flertava
com as mocinhas em flor, antes de fugir para São Paulo.
Lá pusemos uma placa para o governador: É proibido comer a grama".
Minas é Barbacena, onde eu tinha uma tia louca muito engraçada,
que morreu. Agora a cidade só cuida do plantio de rosas alemãs.
Escandalosas!

Minas, apesar de tudo, ainda há, oh Carlos. Antes de morrer,
quero ver Diamantina, andar nos seus pedrais colhendo
flores secas que só lá tem.
E Montes Claros, que no meu tempo tinha 3.000 moradores
e agora tem 300 mil - a coitadinha afogou-se em gente.
Felizmente ainda tem a carne- de- sol de dois pêlos,
que meu irmão me manda, meio falsificada.
E Teófilo Otoni também, com suas duas belas preguiças,
espreguiçando na praça Tiradentes, e o povo espreguiçando
ao redor, buscando pedraria de enganar baiano.

Minas é Belo Horizonte, cidade engenheiril,
feita de teodolito, com ruas retas de doer do princípio ao fim,
desconhecendo a morraria.

Minas é sobretudo meu chão que me atende de furor pátrio-mineiro,
lembrando Filipe e Tiradentes.
Um dilacerado por quatro bestas; o outro enforcado e
esquartejado. Morro de inveja deles. Quisera ser mártir.

O que me exalta mesmo é o Aleijadinho, autor das coisas
mais bonitas que Minas viu.
Inclusive a cabeça de Isaías, o da boca queimada pela palavra de Deus.
Nunca provei nem brasas dessa verdade.
Queria mesmo era escrever um livro mostrando
que Aleijadinho nunca foi aleijado coisíssima nenhuma.
Era um homão bonito e namorador.

Coisas todas, como você vê, de recordar,
rever e curtir, não de escrever sobre.