27.8.08

Pérolas de Mario Quintana

Me alimento de vez enquando das pérolas de Mário Quintana, esse poetinha querido de Alegrete-RS(30.07/1906 a 05/05.1994), de texto irreverente e elevada sabedoria:


" Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação".


A Arte de Ser Bom: "Sê bom. Mas ao coração prudência e cautela ajunta.Quem todo de mel se unta, os ursos o lamberão".


"Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem".


"O sorriso enriquece os recebedores, sem empobrecer os doadores".


"O tempo é a insônia da eternidade".


Poeminha da conta: "todos esses que aí estão atravancando o meu caminho, eles passarão, eu passarinho".


" Esta vida é uma estranha hospedaria, de onde se parte quase sempre as tontas, pois nunca as nossas malas estão prontas e a nossa conta nunca está em dia".


O Milagre:
"Dias maravilhosos em que os jornais vêm cheios de poesia
e do lábio do amigo brotam palavras de eterno encanto.
Dias mágicos em que os burgueses espiam,
através das vidraças dos escritórios,
a graça gratuita das nuvens".

25.8.08

O Inacabado Que Há Em Mim!

Estou sempre atento ao discurso e aos belos textos do Pe. Fábio de Melo. Na Edição do Jornal de Opinião da semana de 18 a 24/08/2008 li esse poema de grande beleza, que transcrevo e ofereço aos meus leitores:


Eu me experimento inacabado,
Da obra, o rascunho.
Do gesto, o que termina.
Sou como rio em processo de vir a ser.
A confluência de outras águas
e o encontro com filhos de outras
nascentes o tornam outro.

O Rio é a mistura de pequenos encontros.
Eu sou feito de águas, muitas águas.
Também recebo afluentes e com eles me transformo.

O que sai de mim cada vez que amo?
O que em mim acontece quando me deparo
com a dor que não é minha,
mas que pela força do olhar que me fita vem morar em mim?

Eu vivo para saber.
O que do outro recebo
leva tempo para ser decifrado.

O que sei é que a vida me afeta
com seu poder de vivência.
Empurra-me para reações inusitadas,
tão cheias de sentidos ocultos.

Cultivo em mim o acúmulo de muitos mundos...
... Um dia sou multidão;
noutro, sou solidão.
Não quero ser multidão todo dia.
Num dia experimento o frescor da amizade;
no outro, a febre que me faz querer ser só.
Eu sou assim. Sem culpas.

7.8.08

Vá Em Frente

Vá em frente!
Mas não se esqueça de olhar para trás,
pois lá pode estar os sinais
que poderão livrar você de uma cilada,
e também indicar boas oportunidades,
mas é preciso está atento para percebê-las.

Vá em frente!
Mas não se esqueça de ouvir os bons amigos,
e juntos dar boas gargalhadas,
pois assim desentoxica-se o organismo,
e assim também percebe-se melhor as coisas ao derredor;

Vá em frente!
E não lamente, não tenha dó,
pois simplesmente não há tempo perdido,
se algo não aconteceu num momento
é por que não tinha que acontecer,
e outras oportunidades surgirão,
e aí ocorrerá a realização desejada;

Vá em frente!
E agradeça a oportunidade da vida,
que é única e não se repetirá;
por isso, ame intensamente e esteja
sempre disponível para o bem, para o amor,
para a amizade, pois são estas as conquistas maiores que se deve tentar, e elas compõem o substrato das lembranças que deixaremos quando concluirmos a nossa passagem.

Vá em frente!
E não se esqueça de ouvir e de brincar com as crianças;
de conversar atentamente com os mais velhos,
pois nesses contatos é que se consegue colher
a verdade essencial, que definitivamente nos abastecerá de conhecimentos e sentimentos para formatar a nossa sabedoria.

Vá em frente!
E não se esqueça de regar o seu jardim,
podar as suas roseiras, plantar o seu quintal
e lá na frente, decorar o seu e os corações amigos,
pois é sempre necessário esse carinho,
e é triste demais ficar apenas na espera de que
lhe tragam rosas, e no final, só lhe entregarem espinhos.

Vá em frente!
E abasteça sua alma das coisas de Deus,
pois assim fortalecerá as suas atitudes, e seu caminho
estará mais leve e abençoado, e nada lhe impedirá de
construir a sua felicidade.

5.8.08

À sombra de Orwell

por Ives Gandra da Silva Martins

O mundo caminha a passos largos para a concretização da profecia orwelliana, de controle absoluto do Estado sobre os direitos das pessoas e uma vigilância que reduz a privacidade a tema de tertúlias acadêmicas.

A título de combater o terrorismo, os americanos pisotearam os ideais de seus fundadores, dos federalistas, dos 55 de Filadélfia, dos pais da Constituição de 1787 e da pátria americana. Guantanamo, Abu-Ghraib, e as interceptações telefônicas - que reduzem os direitos individuais a uma quimera própria de poetas e filósofos - demonstram que hoje, nos Estados Unidos, os direitos da pessoa humana são menos respeitados que no passado.

Na preservação de seus interesses, os europeus esqueceram-se das lições do constitucionalismo francês, que colocava o cidadão como a razão de ser do Estado. Passaram a perseguir emigrantes de países emergentes, a título de proteger suas populações, esquecendo-se de que, no passado, estas nações emergentes foram suas colônias, e tiveram sua população e riquezas dizimadas por senhorios, muitas vezes cruéis.

No século passado, foram também esses países que albergaram os europeus, egressos de cíclicas crises econômicas, em seus territórios. Agora, no tocante a direitos humanos, dividem os cidadãos naqueles de 1ª categoria, que são os seus, e cidadãos de 2ª. categoria, aqueles dos países emergentes.

Na África, um genocida, no estilo de Stálin e de Hitler, através de uma farsa, reelegeu-se novamente presidente de um país, que sufoca há 28 anos, à custa de um sem número de assassinatos e de fraudes, mas com o apoio de outros títeres continentais, entre os quais o do Sudão, e de simbólicas sanções das nações desenvolvidas. Novamente, os direitos humanos foram catapultados.

O Oriente Médio vive da desastrada invasão americana, do fantasma homicida de terroristas com verniz religioso e da eliminação oficial da maior parte dos direitos do cidadão, negando à mulher o seu anseio legítimo de igualdade.

Nada obstante, o progresso da Índia, China e Coréia do Sul, na Ásia, a China continua uma ditadura; a Índia, com suas questões de castas e religiões, um foco permanente de tensões e violências; o Paquistão, uma semi-ditadura que é também escola de terroristas e de assassinatos de opositores. Resta a estável democracia japonesa e a conturbada democracia coreana, como esteios, num continente, em que a Coréia do Norte e o Sri Lanka não são modelos de respeito a direitos humanos.

A América Latina não fica muito atrás. Alguns poucos países são exceção, no Caribe (Costa Rica, Antilhas Holandesas, Ilhas Virgens, e outras colônias européias). Cuba, Bolívia, Venezuela e Equador, continuam desrespeitando os direitos humanos; a liberdade de imprensa sofre duros golpes e os direitos individuais são cerceados.

Nem mesmo o Brasil se salva, na medida em que passou a banalizar a violência a direitos fundamentais. As escutas telefônicas, praticadas pelas Polícias, são autorizadas sem respeito à Constituição e, apesar dos sucessivos alertas do presidente da Suprema Corte, continua a invasão à privacidade das pessoas, algo que não encontra paralelo em nenhuma democracia moderna.

Creio que nem mesmo Orwell, quando escreveu “1984”, imaginou que o mundo, graças à tecnologia moderna, se transformaria numa “ditadura global” dos que controlam a vida dos cidadãos e que empurram o mundo inteiro, na era dos direitos e das garantias constitucionais, para o universo da insegurança, do medo e das perseguições.

Decididamente, vivemos, neste início do século XXI, à sombra de George Orwell

Revista Jus Vigilantibus, Quinta-feira, 31 de julho de 2008