21.9.11

O olhar do teólogo

Futuro do jovem

De que jovem falamos? Há muitos tipos, desde aquele que batalha no dia a dia para ser alguém na vida até aquele envolvido pela sociedade do prazer e do dinheiro, sem fibra para nada mais que gozar do presente.

Tiremos a média: não ‘nada’ na vida boa, nem ‘grama’ o cotidiano pesado. Este jovem está sedentário, a passar horas diante do computador. Além de frequentar programas de busca, interliga-se com inúmeros grupos e pessoas pelo mundo inteiro por meio dos recursos internéticos. Abandona a alimentação convencional em família pelos sanduíches engolidos rapidamente nos McDonald’s ou no quarto, perdido na aventura eletrônica.

Renuncia ao pensar em prol da informação. A cada instante está a transitar de site em site, frequenta blogs, MSN, facebook e similares, que não pedem nenhum exercício da inteligência, mas somente agilidade tecnológica e rapidez de escrita em informatês. A imagem substitui a ideia e, até mesmo, o símbolo no sentido de sinal provocativo do relacionar, imaginar e criar.

Os psicólogos e sociólogos perguntam-se sobre as transformações e deformações que esta maneira de viver acarreta. A olhos vistos, a geração sedentária e alimentada com sanduíches mostra alta taxa de obesidade. Não pratica esporte, não tem contato com a natureza e permanece refém das imagens e da linguagem virtual.

A obesidade age também na psicologia do jovem. Em muitos casos, tornam-se motivo de gozação dos colegas. Sentem a desarmonia do corpo com efeitos na baixa autoestima. E não faltarão problemas para as relações afetivas. Ajuntam-se, à deficiência esportiva, maus hábitos alimentares. Lentamente se perdem costumes tradicionais que a sabedoria popular brasileira consagrara e que agora a cultura americana suplanta.

Do lado psíquico, a situação não sorri. A obsessão pelas relações virtuais tem minado a capacidade de relacionar-se com as pessoas no contato presencial. A diferença das duas relações mostra o risco da substituição de uma pela outra. As relações virtuais desconhecem responsabilidade. As pessoas não passam de signos que são calados com pequeno toque no del. A descartabilidade dos parceiros eletrônicos não permite amadurecimento afetivo. Este pede responsabilidade e respeito que só a presença física impõe.

A arte de pensar exige silêncio interior, capacidade de reflexão e análise que a agitação da telinha do PC dificulta. Talvez esteja sendo gestado outro tipo de jovem, extremamente hábil e ágil nos recursos eletrônicos, mas lento e pouco crítico em face da realidade. O sistema dominante encanta-se com eles, já que as classes dominantes reinam intocadas.

E, finalmente, a abundância e a força estimulativa das imagens secam a sede de transcendência. O lado espiritual se acanha. No máximo, toleram-se surtos espiritualistas festivos que não tocam a profundidade do mistério. E junto à crise espiritual se une a perda do sentido da vida. Então facilmente se salta para o puro presentismo e para a busca sôfrega do prazer, da droga.

Pe. João Batista Libanio –

Professor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia ( FAJE)

Jornal de Opinião – edição 1159 - Página 9

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