25.12.12

Ajuda-me (Ghandi)

Pça da Liberdade- Decoração de Natal 2012




Ajuda-me a dizer a palavra da verdade na cara dos fortes e a não mentir para obter o aplauso dos débeis.
Se me dás dinheiro, não tomes a minha felicidade, e se me dás forças, não tires o meu raciocínio.
Se me dás êxito, não me tires a humildade; se me dás humildade, não tires a minha dignidade. 
Ajuda-me a conhecer a outra face da realidade, e não me deixes acusar os meus adversários, apodando-os de traidores, porque não partilham meu critério.
Ensina-me a amar os outros como amo a mim mesmo e a julgar-me como o faço com os outros.
Não me deixes embriagar com o êxito, quando o consigo, nem a desesperar, se fracasso.
Sobretudo, faz-me sempre recordar que o fracasso é a prova que antecede o êxito.
Ensina-me que a tolerância é o mais alto grau da força e que desejo de vingança é a primeira manifestação da debilidade. 
Se me despojas do dinheiro, deixe-me a esperança, e se me despojas do êxito, deixe-me a força de vontade para poder vencer o fracasso.
Se me despojas do dom da saúde deixa-me a graça da fé. Se causo dano a alguém, dá-me a força da desculpa, e se alguém me causa dano, dá-me a força do perdão e da clemência.
Meu Deus...
se me esquecer de Ti...
Tu não Te esqueças de mim!



Mahatman Gandhi

17.12.12

POEMA DO MENINO JESUS ( Fernando Pessoa)




Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

Fernando Pessoa

14.12.12

ACREDITAR NO NATAL - (Lya Luft)


(Pça da Liberdade- BH -  Natal 2012)

Uma bela reflexão sobre o Natal por Lya Luft, muito lúcida e real. Acho que esteja aí nesse conteúdo uma análise necessária para as nossas realidades e expectativas para esta data, este momento.  Boa leitura.


"Acreditar em Papai Noel, em anjos, em famílias amorosas ou amigos fiéis, em governantes mais justos e líderes mais capazes – em alguma coisa a gente acaba sempre acreditando"

Acreditei em Papai Noel por muitos anos. Menina do interior com a fantasia sempre a mil, ele fazia parte das minhas histórias encantadas. Até uns 7 anos de idade, eu também acreditava na cegonha e no coelho da Páscoa. Quando o pôr-do-sol tingia o céu, diziam-me que os anjinhos começavam a assar aqueles biscoitos de Natal que se faziam em todas as casas da pequena cidade. Trovoadas de começo de verão eram São Pedro arrastando os móveis para a fábrica de brinquedos ter mais espaço.

Na antevéspera de Natal, um recanto da sala era ocultado por lençóis estendidos, e ali atrás ocorria o milagre: na noite de 24, com o coração saltando de ansiedade, a gente escutava sininhos como que de prata: era hora. Levada pela mão da mãe ou do pai, eu entrava na sala, de onde os lençóis tinham sido removidos, e lá estava ela: a árvore de Natal, toda luz de velas, toda cor de esferas, e embaixo os presentes. Muitíssimo menos dos que se dão hoje às crianças, mas havia presentes. Cantávamos canções natalinas, todo mundo se abraçava, depois abríamos os pacotes e comíamos a ceia. No dia seguinte, chegavam tios, primos, alguns amigos. Era só isso, sem alarde, mas com emoção. Guardei a sensação de que Natal é fraternidade, é reconciliação, é alegria de estar junto, é a chegada de pessoas queridas, é o tempo da família. Para quem não a tem, é o tempo dos amores especiais. Não éramos particularmente religiosos, mas uma de minhas avós, luterana convicta, na manhã seguinte me levava à igrejinha, onde eu gostava de cantar. Algo de muito bom se comemorava nesse tempo, o nascimento de Cristo e a esperança dos povos. Nem tudo seria guerra e perseguição, pobreza, crueldade, injustiça.

As pessoas se queixam muito de que o Natal hoje é só comércio. Depende de quem o comemora. Se me endivido por todo o próximo ano comprando presentes além de minhas possibilidades, pois no fundo acho que assim compro amor, estou transformando o meu Natal num comércio, e dos ruins. Se entro nesses dias frustrado porque não pude comprar (ou trocar) carro, televisão, geladeira, estou fazendo um péssimo negócio para minha alma. E, se não consigo nem pensar em receber aquela sogra sempre crítica, aquele cunhado cínico, aquele sobrinho malcriado, abraçar o detestado chefe ou sorrir para o colega que invejo, estou transformando meu Natal num momento amargo. Então, depende de nós. Claro que há as tragédias, as fatalidades, doença, morte, desemprego, alguma maldade – essas não faltam por aí. Um avô meu morreu de doença muito dolorosa, na véspera de Natal. Foi a primeira vez que vi um adulto, minha avó, chorando. Há poucos anos, minha mãe morreu na antevéspera de Natal, depois de longuíssimo tempo de uma enfermidade maldita. Mas foram também ocasiões de conforto e consolo, abraço, amor e entendimento.

Na medida em que não se podem dar muitos e caríssimos presentes, talvez até se apreciem mais coisas delicadas como a ceia, o brinde, o carinho, os votos, a reunião da família, o contato emotivo com os amigos, mensagens pelo correio ou e-mail, música menos barulhenta e aroma de velas acesas. Mais que tudo isso, o perfume de uma esperança ainda que realista. A crise nas finanças pode incrementar a valorização dos afetos. Se não pudermos viajar, curtiremos mais nossa casa. Se não há como trocar velhos objetos, vamos cuidar mais dos que temos. Se não podemos comprar o primeiro carro, vamos olhar melhor nossos companheiros no metrô. Vamos curtir mais nossos ganhos em afeto.

Não é preciso ser original para escrever sobre o Natal. A gente só quer que ele seja tranqüilo e gostoso, e que nos faça acreditar: em Papai Noel, em anjos, em famílias amorosas ou amigos fiéis, em governantes mais justos e líderes mais capazes, em um povo mais respeitado – em alguma coisa a gente acaba sempre acreditando. Porque, afinal de contas, é a ocasião de ser menos amargo, menos crítico, menos lamurioso e mais aberto ao sinal deste momento singular, que tanto falta no mundo: a possível alegria, e o necessário amor".

12.12.12

Uma Crônica a BH (115 Anos)

Pça da Liberdade - BH


Apaixonar-me por BH foi muito fácil. Os anos eram setenta e poucos, quando cheguei por aqui. Desconfiado mas feliz, dei início as minhas indas e vindas por suas ruas principais, em diagonal, que sempre cruzam com a majestosa Av. Afonso Pena que acaba lá por cima no sopé da  Serra do Curral, seu ícone maior. Sempre seguindo com destino ao trabalho, à escola, ao cinema, a algum "buteco",  ao teatro, à casa dos amigos ou da namorada.

Esta cidade que ali estava, pronta, me abriu os braços e me recebeu com amor; calma e cheia de gente com cara de outro lugar. Pois  sabemos que em BH, poucos são nascidos aqui, a maioria dos habitantes e trabalhadores são de outros lugares, como eu que sou do Ceará e por aqui vim passar umas férias e fiquei. Já se vão 37 anos.

A conheci muito leve, sem violência, trânsito fácil e ar respirável. Os sonhos me impulsionavam para as conquistas desse novo mundo chamado Belo Horizonte. Alguns realizei, outros se perderam; vieram outros e novamente os realizei. E a vida seguiu em frente. E me tornei cidadão e fiz história e digo que sou seu filho BH.

Me sinto parte integrante dessa festa dos 115 anos dessa moça, adolescente, que apesar de concretada, ainda exala ares de cheiro bom, cheiro de mato e de fazenda e mantém suas curvas de uma arquitetura que em algumas esquinas, nos traz a lembrança de seus primeiros passos.  Esquinas da rua da Bahia, rua Espírito Santo, bairro de Lourdes, Floresta, Savassi... enfim. Quem tem o olhar observador, percebe que ainda restam cantinhos de uma memória que não se apagará.

A ti BH, desejo mais cem anos com esse jeitão de menina e que suas esquinas sejam preservadas; e que as autoridades recuem e façam o caminho de volta a tornando mais verde e florida, sempre mais, pois o povo necessita. Boullevares, apenas não bastam, é preciso desconcretar e retomar o verde que sempre foi a sua identidade e nos fazia melhor respirar.

O seu Mercado Central, uma festa permanente, de coisas e gente; seu Mineirão e o Independência, agora renovados, e prontos para os grandes clássicos que sempre serão uma festa do seu, do nosso futebol vencedor: Galo, América e Cruzeiro. 

Seus bairros históricos: Santo Antonio, Floresta, Santa Teresa... Ah!Santa Teresa!  Das esquinas de Milton, Toninho, Wagner Tiso, Beto, Flávio, Tavito, Lô... de sua Praça, do "Bolão"... quantas noites ali encerradas com  cerveja bem gelada, "mexido" e "rochedão"... Ah BH! Moça da noite e das travessias da boemia, dos sobrados das belas serestas,  desde os bons tempos de JK.

Há também uma outra praça,  a sua praça, que mais diz de sua vocação, "praça da Liberdade",  agora renovada e transformada com seus prédios periféricos, transformados em centros de exposições, o que nos aponta um tempo novo e uma nova perspectiva à sua cultura e à sua história de novas vidas a serem construídas, novos sonhos e novas vitórias.  


Parabéns BH!


J. Carvalho








10.12.12

BH 115 Anos





(Este poema foi minha homenagem a BH no seu Centenário - dez./1997, e a cada novo aniversário eu o reedito e o público, pois é minha declaração de amor a esta cidade que me adotou e que aprendi a amar.  Nesta semana, precisamente dia 15/12, quando completa 115 anos, eu a parabenizo e divido com os leitores deste blog e no meu perfil do facebook. Comentem e vamos fazer a festa!). 



O belo horizonte que sobre ti a vida estende,
independe das atitudes
ou das razões dos homens e mulheres,
pois será eternamente belo e imponente!

A serra generosa, sobre ti estende os braços
e permite que os teus devaneios aflorem,
as tuas realizações avancem
e se transformem em canções na alma do teu povo.

Teu mesmo povo que tanto te faz maior
e pouco zelo a ti dedica.
Mas contigo, sempre a esperança!
Esta criança que embala o peito
e dá um jeito no sonho que não pode ficar velho.

Apostando no amanhã adulto, do teu hoje moleque,
enche o coração da gente que acredita na mudança
e sabe do grande futuro aos teus sonhos reservados.

Cidade fêmea, cidade mulher...
Ter-te e conhecer-te nestes trinta e poucos anos de convivência,
foi ganho de amor, de inspiração e sabedoria.

Entre o provinciano e o moderno que te veste,
conquistei um pouco de paz e alegria.
Fiz de ti o meu espelho da paixão
e acredito que vivemos uma rica relação de amor e vida!

J. Carvalho

ORGANIZA O NATAL - (CDA)

Inhotim - Matozinhos - MG
 
Carlos Drummond de Andrade
Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal. É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: 10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito. E não parece absurdo imaginar que, pelo desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem, o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era civil, com suas obrigações enfadonhas ou malignas. Será bom.

Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a outra, de continente a continente, de cortina de ferro à cortina de nylon — sem cortinas. Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos, marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade. Os objetos se impregnarão de espírito natalino, e veremos o desenho animado, reino da crueldade, transposto para o reino do amor: a máquina de lavar roupa abraçada ao flamboyant, núpcias da flauta e do ovo, a betoneira com o sagüi ou com o vestido de baile. E o supra-realismo, justificado espiritualmente, será uma chave para o mundo.

Completado o ciclo histórico, os bens serão repartidos por si mesmos entre nossos irmãos, isto é, com todos os viventes e elementos da terra, água, ar e alma. Não haverá mais cartas de cobrança, de descompostura nem de suicídio. O correio só transportará correspondência gentil, de preferência postais de Chagall, em que noivos e burrinhos circulam na atmosfera, pastando flores; toda pintura, inclusive o borrão, estará a serviço do entendimento afetuoso. A crítica de arte se dissolverá jovialmente, a menos que prefira tomar a forma de um sininho cristalino, a badalar sem erudição nem pretensão, celebrando o Advento.

A poesia escrita se identificará com o perfume das moitas antes do amanhecer, despojando-se do uso do som. Para que livros? perguntará um anjo e, sorrindo, mostrará a terra impressa com as tintas do sol e das galáxias, aberta à maneira de um livro.

A música permanecerá a mesma, tal qual Palestrina e Mozart a deixaram; equívocos e divertimentos musicais serão arquivados, sem humilhação para ninguém.

Com economia para os povos desaparecerão suavemente classes armadas e semi-armadas, repartições arrecadadoras, polícia e fiscais de toda espécie. Uma palavra será descoberta no dicionário: paz.

O trabalho deixará de ser imposição para constituir o sentido natural da vida, sob a jurisdição desses incansáveis trabalhadores, que são os lírios do campo. Salário de cada um: a alegria que tiver merecido. Nem juntas de conciliação nem tribunais de justiça, pois tudo estará conciliado na ordem do amor.

Todo mundo se rirá do dinheiro e das arcas que o guardavam, e que passarão a depósito de doces, para visitas. Haverá dois jardins para cada habitante, um exterior, outro interior, comunicando-se por um atalho invisível.

A morte não será procurada nem esquivada, e o homem compreenderá a existência da noite, como já compreendera a da manhã.

O mundo será administrado exclusivamente pelas crianças, e elas farão o que bem entenderem das restantes instituições caducas, a Universidade inclusive.

E será Natal para sempre.

Ah! Seria ótimo se os sonhos do poeta se transformassem em realidade.

Texto extraído do livro "Cadeira de Balanço", Livraria José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1972, pág. 52.

6.12.12

OSCAR NIEMEYER - 1908 / 6.12.2012

Prédio arquitetado por Niemeyer na Pça da Liberdade BH-MG


Posto hoje, com um sentimento profundo, este texto que é uma singela homenagem ao Oscar NIEMEYER, que com sua personalidade, sua arte, enfim,  arquitetou uma obra que projetou o Brasil para o mundo. Descansa em paz Oh Mestre!

- Chegou ao fim a vida do "POETA da SINUOSIDADE". Sobre a finitude da vida, ele que era um ateu, agnóstico, materialista e dialético, disse certa vez, indagado sobre a morte, por Ricardo Boechat, Jornalista e seu amigo particular: " Se até passarinho morre... porque hei de permanecer? ". Mas Oscar Niemeyer, permanece através de sua obra de enorme reconhecimento nacional e internacional, seja na América, na Europa... enfim; e em todos nós que temos o sentimento de que em seu desenho havia mais que curvas, beleza, inovação e criatividade; havia e há o humano e a perpetuação da beleza da vida.

Niemeyer, carregava n´alma o sentimento profundo do humano, da integração, da humildade, que fez, através de sua arquitetura única, engenhosa... até o concreto se dobrar. Dizia que ao criar um desenho para um prédio público, pensava nos desprovidos de recursos, os pobres, que sentiriam o prazer da contemplação ao vê-lo edificado;  e aos funcionários que ali labutariam, que as suas depend
ências os estimulassem a produzir grandes projetos que servissem  à população. Afirmava, daí, que infelizmente, a arquitetura, era para os ricos.

Descanse em paz, e que ao encontrar com Burle Marx lá por cima, edifiquem obras geniais nos Jardins Eternos.




J. Carvalho