Vale dizer que para o país foi um ano de muitas perdas e pouco ganho;
Na música, Teatro e Cinema:
Perdemos Paulo Goulart,
Perdemos José Wilker,
Jair Rodrigues,
Roberto Gómez Bolaños(Chaves),
Robin Williams...
Na Literatura:
Perdemos Ariano Suassuna,
Perdemos João Ubaldo,
Perdemos Manoel de Barros...
E não há peças à altura e dessa envergadura para repor!
No futebol:
Perdemos a Copa de goleada, em casa,
Perdemos de Milhões x 0 para o superfaturamento,
Perdemos de 7 x 1 para os Alemães e para Holandeses por 3 x 0
E a CBF nos presenteia com o bronco Dunga para uma falsa renovação!
Ficou o consolo dos Mineiros:
Galo e Cruzeiro fizeram de BH a sede do futebol da nação.
Na Política:
Perdemos Eduardo Campos que se foi tragicamente; e levou nossas esperanças
De ver um líder carismático e de boa formação
Assumindo os destinos do país;
E foi entregue mais 4 anos de poder para o PT;
Perdemos na economia, perdemos para a Inflação,
Perdemos e morremos de vergonha com a Petrobrás,
Perdemos para o desmatamento,
Perdemos para a escassez hídrica e para a corrupção!
Perdemos feio e um pouco mais da crença que já não era tanta,
De ver no horizonte algum sopro de mudança
Para a vida que num tempo breve, sonhávamos ter;
Ao Fechar das Cortinas só nos resta agora orar ao Pai
Para que nos destine a um caminho novo, um novo renascer!
O ar urbano e do interior já não são os mesmos
Como não são os mesmos os seus afagos e seus beijos
Nem mesmo são as mesmas as canções nas esquinas de Minas
Não são as mesmas as meninas
Nem mesmo as suas fantasias, bem como as suas orações
Não são mais os mesmos os gestos espontâneos de suas alegrias
Pois o aço transformado rouba-lhe o respiro e aos poucos lhe devora,
A escora do fio da navalha lhe põe medo e lhe fere
Pondere apesar e acredite firme: ainda há a verdade a ser dita sem pudor
Não silencie, grite ao mundo nos seus quatro cantos
E saiba que só afirmarão os seus encantos, a sua presença
Se forte voce for na defesa da amizade e na decência do amor.
João e Maria e Isabela Nardoni, Joaquim Marques, Bernardo Boldrini... O caso do menino Bernardo, pelo que se sabe até agora, assassinado pela madrasta, vem juntar-se a outros, recentes ou não, em que a crueldade contra crianças nos envergonha, assusta e deixa indignados. Diante de tanta brutalidade, uma pergunta incômoda vem à tona; aumentou a violência, cresceu a insensibilidade ou tudo isso sempre existiu e, agora, apenas tem mais divulgação através da mídia?
Tendo a acreditar mais na segunda hipótese, mas o poder ampliador e a exploração escandalosa que certo tipo de imprensa faz desses casos não são, por si só, a única explicação. A violência contra crianças sempre existiu e há traços dela até mesmo nas histórias infantis. A propósito da Campanha da Fraternidade deste ano, que trata do “Tráfico de pessoas”, já lembrei aqui a história do “homem do saco”, que sequestrava crianças e as escravizava, obrigando-as a trabalhar para ele. Há coisa pior. Todo mundo conhece a historinha dos irmãos João e Maria, filhos de um pobre lenhador que com apoio da mulher, decide abandoná-los na floresta porque a família não tinha condições para mantê-los. A ideia era que, perdidos na floresta, morressem de fome ou fossem devorados por animais ferozes.
Dá pra imaginar as crianças ouvindo essa história, contada pelos pais...? Sem resvalar para o “politicamente correto”, radical e insuportável, sou de uma geração que “atirou o pau no gato”, pedra em passarinho e brincava de “nego fugido, pego...” Sobrevivemos, apesar das histórias infantis que ouvimos estarem repletas de crueldade, crimes, brutalidade de toda sorte.
Evoluímos. Dados e estatísticas das polícias Civil e Militar demonstram que certos tipos de crime até tiveram redução nos últimos anos, se considerarmos o crescimento da população, mas os mesmos dados informam que cresceu o caráter hediondo da violência, com manifestações cada vez mais brutais e cruéis, potencializadas, em especial, pelo consumo de drogas.
Volto à pergunta inicial: aumentaram os casos ou a denúncia do que sempre existiu? E, em se tratando de denúncia, aí entra o papel daquela imprensa hematófaga, que transforma sangue em espetáculo, que, por sua vez, alimenta a indústria da in-segurança, que nos faz sentir acuados em nossas casas, apartamentos e condomínios transformados em campos de concentração de medo e desconfiança. O resultado? Quantos políticos serão eleitos, em outubro, com esse previsível discurso de que lugar de bandido é na cadeia? E o lugar dos fabricantes de bandidos, que desviam bilhões da Educação, da Saúde, da Segurança e da Esperança, é aonde?
Quantos apresentadores, no Rádio e na TV, ganham milhões para nos assombrar, diariamente com seus apelos sanguinolentos, a pedir, velada ou explicitamente, leis mais duras, prisão perpétua, pena de morte... Pena de morte? Mais??? Só em Pedrinhas, no Maranhão, já houve mais execuções nos últimos doze meses que em todos os países que têm a pena capital, juntos!
Sem ingenuidade, sem síndrome de Polyanna, penso que, apesar de tudo, estamos num processo contínuo de evolução e revolução humana. Lentamente, num movimento quase imperceptível para quem está dentro dele, assim como não percebemos a rotação da Terra, estamos nos movendo na direção do Mais, do Magis, re-conhecendo em nós mesmos a imagem e semelhança com o Criador que se revelou, desde sempre, desde antes do sempre, amor apaixonado.
Repito e insisto: Deus, que É amor, criou cada um de nós POR amor e PARA o amor. O amor é nosso berço, caminho e destino. Podemos confirmar isso fazendo um passeio pela nossa memória afetiva, buscando a lembrança dos momentos mais felizes da nossa vida.
Pare agora a leitura dessa crônica. Afaste-se do computador ou do papel. Dê a si mesmo um tempo para recordar (re-cordis = trazer de novo ao coração), percorrendo os labirintos da memória e tentando selecionar, entre as muitas experiências e momentos vividos, aquelas e aqueles que mais alegraram o seu coração, dando-lhe a sensação de quase plenitude, de alegria intensa, profunda, duradoura. Contemple cada um desses momentos e deixe que os sentimentos venham à tona. Agora... um detalhe; em algum desses momentos re-cordados você estava sozinho(a)...? Dificilmente...
Os momentos mais felizes da nossa vida estão ligados a experiências de amar e ser amado. “Deus é amor; e quem está no amor está em Deus, e Deus nele. 1João 4:16”. Violência só serve para atrair mais e mais violência. É nisso que acredito no mais profundo da minha esperança. Sem abrir mão da Justiça, que deve ser cada vez mais humanizada e não brutalizada. Colocar a Educação no lugar da vingança, a oportunidade no lugar da exclusão e do abandono.
Meu guru, tão humano quanto eu, nessa seara, continua sendo Mahatma Gandhi, que me ensinou: “Se optarmos pelo olho por olho, dente por dente, vamos acabar vivendo num mundo de cegos e banguelas...” Minha colega, a educadora Rosana da Franca, sublinha que fomos criados pelo e para o Amor e a vivência desse Amor é a razão maior, senão única, da nossa existência. E acrescenta: “Cabe, porém, uma pergunta: A quem se destina o nosso amor? Aos que nos amam? Isso não é tão difícil assim. Difícil é amar, mesmo não gostando, os que nos agridem, os violentos, os corruptos, os ingratos... eis aí o nosso maior desafio! Aplacar a ira, a sede de vingança, o “pagar com a mesma moeda”, buscando entender que os que são alvo da nossa indignação são os enfermos de que Jesus falou, dizendo que é para eles que Ele veio, e continua vindo, pelas nossas mãos, palavras e gestos de solidariedade”.
Amar essa gente que nos assusta é reconhecer neles, mesmo sob as muitas camadas da maldade que os corrompeu, a dignidade humana possível, resistente, sobrevivente. Perdoar, restaurar, reconstruir, é uma das mais belas formas de amar. E das mais difíceis, também. Que possamos aprender com as crianças, para além da brutalidade das histórias infantis, sejam fábulas ou realidade, alguma coisa que nos torne mais... humanos. Como Jesus; “tão humano assim, só podia ser Deus...” Eduardo Machado 28/04/2014
- Este poema homônimo o escrevi inspirado nesta bela canção de Arnaldo Antunes que transmite de forma inspirada, as angústias, os desencontros e reencontros de todos nós nos grandes centros, selvas urbanas.
Socorro
Há uma mão armada apontada em nossa direção
Há uma lei que já não se cumpre
Há uma polícia que só nos confunde
Há uma justiça sem referências justas
Há milhões de atos falhos e falas nebulosas
Há uma falta de tudo e um excesso que já nos sufoca
Há uma fachada mentirosa
Um sistema frio e distante que já não nos representa
Socorro
Chega de tanto falsos luxos
Lixos urbanos em atos desumanos
Ameaças e atitudes profanas
Chega de achar que tudo é o acaso e deixar seguir
Já não vejo mais paz na minha rua
Já não vejo mais as ondas brancas do meu mar
- Uma das letras e mais belas canções do Legião Urbana. Renato Russo e turma, conseguiram transitar pelo universo dos jovens com base em Brasília e chegou a todos os jovens de todas as idades. Monte Castelo, Por Enquanto, Eduardo e Monica, são espelhos de tudo isso.
Mudaram as estações
E nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Está tudo assim tão diferente
Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber
Que o pra sempre
Sempre acaba
Mas nada vai conseguir mudar
O que ficou
Quando penso em alguém
Só penso em você
E aí então estamos bem
Mesmo com tantos motivos
Pra deixar tudo como está
E nem desistir, nem tentar
Agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa