30.1.12

Educação de 4º Mundo - Lya Luft - (Veja Fev. 2010)


Reli este artigo de Lya Luft, de quem sou leitor de carteirinha; (Revista Veja - edição 2150 - de 3 de fev. de 2010) - Pergunto: será que de lá para cá alguma coisa mudou, alguma perspectiva nova se abriu? Despertemos pois! Ou cuidamos de nossa educação e nossa saúde públicas ou seremos um país de economia em alta e uma população de doentes e alienados!



- "Educação de quarto mundo"
Lya Luft

"Por que nos contentarmos com o pior, o medíocre, se podemos ter o melhor e não nos falta o recurso humano para isso?"

No meio da tragédia do Haiti, que comove até mesmo os calejados repórteres de guerra, levo um choque nacional. Não são horrores como os de lá, mas não deixa de ser um drama moral. O relatório "Educação para todos", da Unesco, pôs o Brasil na 88ª posição no ranking de desenvolvimento educacional. Estamos atrás dos países mais pobres da América Latina, como o Paraguai, o Equador e a Bolívia. Parece que em alfabetizar somos até bons, mas depois a coisa degringola: a repetência média na América Latina e no Caribe é de pouco mais de 4%. No Brasil, é de quase 19%.

No clima de ufanismo que anda reinando por aqui, talvez seja bom acalmar-se e parar para refletir. Pois, se nossa economia não ficou arruinada, a verdade é que nossas crianças brincam na lama do esgoto, nossas famílias são soterradas em casas cuja segurança ninguém controla, nossos jovens são assassinados nas esquinas, em favelas ou condomínios de luxo somos reféns da bandidagem geral, e os velhos morrem no chão dos corredores dos hospitais públicos. Nossos políticos continuam numa queda de braço para ver quem é o mais impune dos corruptos, a linguagem e a postura das campanhas eleitorais se delineiam nada elegantes, e agora está provado o que a gente já imaginava: somos péssimos em educação.

Pergunta básica: quanto de nosso orçamento nacional vai para educação e cultura? Quanto interesse temos num povo educado, isto é, consciente e informado - não só de seus deveres e direitos, mas dos deveres dos homens públicos e do que poderia facilmente ser muito melhor neste país, que não é só de sabiás e palmeiras, mas de esforço, luta, sofrimento e desilusão?

Precisamos muito de crianças que saibam ler e escrever no fim da 1ª série elementar; jovens que consigam raciocinar e tenham o hábito de ler pelo menos jornal no 2º grau; universitários que possam se expressar falando e escrevendo, em lugar de, às vezes com beneplácito dos professores, copiar trabalhos da internet. Qualidade e liberdade de expressão também são pilares da democracia. Só com empenho dos governos, com exigência e rigor razoáveis das escolas - o que significa respeito ao estudante, à família e ao professor - teremos profissionais de primeira em todas as áreas, de técnicos, pesquisadores, jornalistas e médicos a operários. Por que nos contentarmos com o pior, o medíocre, se podemos ter o melhor e não nos falta o recurso humano para isso? Quando empregarmos em educação uma boa parte dos nossos recursos, com professores valorizados, os alunos vendo que suas ações têm consequências, como a reprovação - palavra que assusta alguns moderníssimos pedagogos, palavra que em algumas escolas nem deve ser usada, quando o que prejudica não é o termo, mas a negligência. Tantos são os jeitos e os recursos favorecendo o aluno preguiçoso que alguns casos chegam a ser bizarros: reprovação, só com muito esforço. Trabalho ou relaxamento têm o mesmo valor e recompensa.

Sou de uma família de professores universitários. Exerci o duro ofício durante dez anos, nos quais me apaixonei por lidar com alunos, mas já questionava o nível de exigência que podia lhes fazer. Isso faz algumas décadas: quando éramos ingênuos, e não antecipávamos ter nosso país entre os piores em educação. Quando os alunos ainda não usavam celular e iPhone na sala de aula, não conversavam como se estivessem no bar nem copiavam seus trabalhos da internet - o que hoje começa a ser considerado normal. Em suma, quando escola e universidade eram lugares de compostura, trabalho e aprendizado. O relaxamento não é geral, mas preocupa quem deseja o melhor para esta terra.

Há gente que acha tudo ótimo como está: os que reclamam é que estão fora da moda ou da realidade. Preparar para as lidas da vida real seria incutir nos jovens uma resignação de usuários do SUS, ou deixar a meninada "aproveitar a vida": alguém pode me explicar o que seria isso?

16.1.12

VORAGEM (Poemas de Silvia Rubião)

A Estréia Poética De Sílvia Rubião

por Rogério Miranzelo *
publicado em 20/9/2005.

O maior acerto de Sílvia Rubião, em seu livro de estréia (Tangências, 7Letras, 2005), é o tom comedido e sincero de seus relatos: poesia limpa, sem ser asséptica; amorosa, sem ser piegas.

Ao invés de expor feridas latejantes, a autora expõe cicatrizes que, embora indeléveis, parecem inevitáveis. São poemas de alma feminina, que falam de pele, chão, pés, contatos táteis e visuais, papéis, espaços físicos e temporais. Enfim, de tangências.

No inspirado poema Memória da água, que abre o livro, a inútil tentativa de moldar os pés nas pegadas antigas, o que permitiria, na imaginação poética, refazer percursos. E a oposição seiva/deserto. Indaga a poeta: O amor derramado / ora nódoa seca e sem visgo / por que veias, por que valas se esvaiu?.

Fachos de luz percorrem a memória da autora: solidão e desencontros amorosos transformados em poemas sem vício de autopiedade. Se Tangências, Luz de ilusão e Na orla são exemplos disso, Círculo, aqui transcrito na íntegra, tem um vigor especial:

No vácuo em que te moves
retomo o caminho de dentro
e fecho o círculo

Já não me exasperam
o desamor e suas verdades:
as almas jamais se entendem
expressam-se na paixão
e silenciam baldias
quando tudo se dilui
ou se esgota.

Poema conciso no qual parece haver uma confluência de sentidos, que advêm tanto da idéia de movimento ("No vácuo em que te moves"), quanto de fechamento de um círculo imaginário da paixão, de maneira abrupta ("quando tudo se dilui / ou se esgota").

Sílvia é profissional da área de comunicação empresarial, em Belo Horizonte, e sobrinha do consagrado contista mineiro Murilo Rubião, falecido em 1991. Também escreve em prosa, mas resolveu estrear com este livro de poemas, revelando voz própria. Na entrevista a seguir, ela fala de sua poesia, de poetas diversos e do tio escritor.

1) Como era seu relacionamento com o Murilo Rubião? Devido à proximidade familiar, pôde perceber detalhes no ofício dele como escritor, ou nos próprios contos, que vão além do que nós leitores podemos apreender?

Meu tio, pelo seu estilo de vida notívago e boêmio não convivia com a família de forma tradicional. Era aquela pessoa que aparecia de vez em quando e fazia a festa das crianças sempre com muitas balas e presentes. Já adulta, convivi mais proximamente com ele, pois fomos vizinhos de porta. Mas infelizmente, com três filhos pequenos, não pude aproveitar mais a sua casa, na época muito freqüentada por artistas e intelectuais. Ele era assim: ou estava rodeado de amigos em conversas madrugada a dentro ou fechado no seu mundo de livros e papéis. Percebendo o meu interesse por literatura me dava uma atenção toda especial. Mas nunca consegui penetrar no seu universo criativo. Acho que seus contos refletem bem essa sua personalidade. Aparentemente contido e reservado, tinha um mundo próprio, uma grande ebulição interior, que resultou nessa literatura de grande potencial inventivo e imagético.

2) Seus poemas pressupõem tanto a sensibilidade da pessoa comum diante dos próprios reveses (em especial, da mulher), quanto do fazer poético em si. Qual é o sentido, para você, de se recriar a realidade através da literatura, diante da complexidade da vida?

A literatura é a minha forma de lidar com o insondável , de tentar descobrir o que não conheço ou não entendo. Durante algum tempo, cheguei a supor que poderia ir por outros caminhos, mas há certas coisas das quais é inútil tentar escapar. A poesia é para mim também uma forma de libertação, uma forma de ir além da linguagem. A linguagem, principalmente para quem lida com ela profissionalmente, escrevendo por encomenda, tem um lado opressivo, regras que nos obrigam a dizer as coisas de tal forma. A literatura é uma forma de escapar a essa ditadura da linguagem. É a minha forma de, partindo da realidade, criar uma encenação e subvertê-la.

3) De quais poetas brasileiros, contemporâneos ou não, você mais gosta?

Tenho procurado ler bastante a produção poética mais contemporânea, mas ainda me sinto muito presa aos clássicos modernistas. Drummond, João Cabral, Bandeira, Murilo Mendes, Cecília Meirelles etc A força gravitacional deste legado é para mim muito forte. Aliás esses grandes poetas, há mais tempo, me impediam de ousar escrever qualquer verso. Como se fosse impossível fazer qualquer coisa depois deles, como se tudo já tivesse sido dito. Só recentemente tenho tido um contato maior com Ferreira Gullar, Hilda Hilst e com outros que desconhecia totalmente como Mário Faustino, o recentemente premiado Paulo Henrique Salles Brito e estrangeiros como o argentino Juan Gelman, a portuguesa Sophia Meyer. E sempre retorno a uma obra que para mim é inesgotável, que é a de Clarice Lispector, a poesia em prosa.

4) Seu poema O ouro da rua possui um sensível desfecho: "Lá onde o meu cálice brilha e não há respostas". Para encerrar, poderia citar outro(s) verso(s) de seu livro, que seja essencial para você?

Não saberia apontar. Como tudo que escrevo é excessivamente depurado, o que fica é para mim o essencial, e com uma certa interdependência. Acho difícil enxergá-los isoladamente. Mas se tivesse que escolher apenas um ficaria também com este. Acho que justamente porque "não há respostas."

Sobre o Autor

Rogério Miranzelo: Rogério Miranzelo (Belo Horizonte/MG) nasceu em 1961. Escritor e jornalista, colaborou em vários jornais, revistas e sites do Brasil, com crônicas, artigos e resenhas. É autor dos livros "Lua Diferente" (poemas - 2007) e "Belo" (crônicas - 2004).
www.miranzelo.com

11.1.12

Cascatas



A chuva desce continua e para muitos, chata
Pois em cântaros e há dias, morros viram cascatas
E deixam olhos tristes e vidas desamparadas

A chuva desce contínua e para muitos, chata
Pois está em excesso e assim encharca, desmorona, mata...
E as vítimas inocentes suplicam por ajuda de forma desesperada

A chuva desce devorando vidas, paisagens, patrimônios e estradas
Pois não se cuida bem da natureza, que não perdoa quando é maltrada

A Chuva, que é festa no interior e no sul está escassa
Aqui causa dor e deixa uma multidão sofrida, resignada, estática!

Fernando Pessoa

Cai Chuva do Céu Cinzento
(Fernando Pessoa)








Cai chuva do céu cinzento
Que não tem razão de ser.
Até o meu pensamento
Tem chuva nele a escorrer.

Tenho uma grande tristeza
Acrescentada à que sinto.
Quero dizer-ma mas pesa
O quanto comigo minto.

Porque verdadeiramente
Não sei se estou triste ou não.
E a chuva cai levemente
(Porque Verlaine consente)
Dentro do meu coração.


4.1.12

Vamos Construir o Novo.


Mesmo diante de todas as tragédias e infortúnios dos tempos de agora, desejo a você um Ano Novo, um novo tempo feliz e cheio de sonhos e esperança! Um tempo novo em sua vida e que comprenda sempre as sutis diferenças:


"Entre dar a mão e acorrentar uma alma. E que você aprenda que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança ou proximidade. E que compreenda que beijos não são contratos, tampouco promessas de amor eterno. Entenda ainda que é preciso aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos radiantes, com a graça de um adulto – e não com a tristeza de uma criança. E que é necessário aprender a construir todas as suas estradas no hoje, pois o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, ao passo que o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.


Mesmo diante de todas as tragédias e infortúnios dos tempos de agora desejo a você um Ano Novo Feliz e cheio de sonhos e esperança!


"Mesmo depois de um tempo, espero " que você aprenda que o sol pode queimar se ficarmos expostos a ele durante muito tempo. E aprenda que não importa o quanto você se importe: algumas pessoas simplesmente não se importam… E aceita que não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai ferí-lo(a) de vez em quando e, por isto, você precisa estar sempre disposto a pedoá-la".


Mesmo diante de todas as tragédias e infortúnios dos tempos de agora desejo a você um Ano Novo Feliz e cheio de sonhos e esperança!


"E que você aprenda que falar pode aliviar dores emocionais. Descubra que se leva um certo tempo para construir confiança e apenas alguns segundos para destruí-la; e que você, em um instante, pode fazer coisas das quais se arrependerá para o resto da vida. Aprenda que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias, e que, de fato, os bons e verdadeiros amigos foram a nossa própria família que nos permitiu conhecer. Aprenda que não temos que mudar de amigos: se compreendermos que os amigos mudam (assim como você), perceberá que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou até coisa alguma, tendo, assim mesmo, bons momentos juntos".


Mesmo diante de todas as tragédias e infortúnios dos tempos de agora desejo a você um Ano Novo Feliz e cheio de sonhos e esperança!


"E que você descubra que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito cedo, ou muito depressa. Por isso, sempre devemos deixar as pessoas que verdadeiramente amamos com palavras brandas, amorosas, pois cada instante que passa carrega a possibilidade de ser a última vez que as veremos; aprenda que as circunstâncias e os ambientes possuem influência sobre nós, mas somente nós somos responsáveis por nós mesmos; comece a compreender que não se deve comparar-se com os outros, mas com o melhor que se pode ser".


Mesmo diante de todas as tragédias e infortúnios dos tempos de agora desejo a você um Ano Novo Feliz e cheio de sonhos e esperança!

"Descubra que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que se deseja ser, e que o tempo é curto. Aprenda que não importa até o ponto onde já chegamos, mas para onde estamos, de fato, indo – mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar servirá".


Mesmo diante de todas as tragédias e infortúnios dos tempos de agora desejo a você um Ano Novo Feliz e cheio de sonhos e esperança!

"Que você aprenda a controlar seus atos e temperamento, ou acabará escravo de si mesmo, pois eles acabarão por controlá-lo; e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa o quão delicada ou frágil seja uma situação, sempre existem dois lados a serem considerados, ou analisados".


Mesmo diante de todas as tragédias e infortúnios dos tempos de agora desejo a você um Ano Novo Feliz e cheio de sonhos e esperança!


"Que você aprenda que heróis são pessoas que foram suficientemente corajosas para fazer o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências de seus atos. Aprenda que paciência requer muita persistência e prática. Descubra que, algumas vezes, a pessoa que você espera que o chute quando você cai, poderá ser uma das poucas que o ajudará a levantar-se.

Aprenda que não importa em quantos pedaços o seu coração foi partido: simplesmente o mundo não irá parar para que você possa consertá-lo. Aprenda que o tempo não é algo que possa voltar atrás. Portanto, plante você mesmo seu jardim e decore sua alma – ao invés de esperar eternamente que alguém lhe traga flores. E que você aprenda que, realmente, tudo pode suportar; que realmente é forte e que pode ir muito mais longe – mesmo após ter pensado não ser capaz. E que realmente a vida tem seu valor, e, você, o seu próprio e inquestionável valor perante a vida".


J.Carvalho 01.01.2012

(Adaptação do texto "um dia você aprende" de W. Shakespeare)