28.2.14

Decifrando o "MORAR BEM"





Nascemos e crescemos sob o domínio, o condomínio dos desejos de morar bem e de forma confortável no lugar que sonhamos para ser o nosso lar, nossa morada de descanso, e  prazeres em família.

Desenhamos em nossos imaginários os jardins, móveis, tapetes, luminárias,  banheiros modernos, tetos bonitos, quartos, quintais... enfim;   e recebemos rotineiramente estímulos por milhares de informações publicitárias nos indicando os objetos e os caminhos mais acessíveis para alcançarmos o nosso “Morar Bem”. Aos poucos vamos acumulando reservas mensais e realizando o que planejamos.

Mas o "Morar bem"  pode ter vários conceitos e definições. Para você pode ser viver em  uma casa com vários quartos e banheiros;  para mim e minha família seja em um apto de 4 quartos com varanda ou uma casa no campo; para meus avós apenas a reforma da sala e da cozinha já seria  talvez o seu “morar bem”;  para o jovem adolescente apenas ter um quarto confortável e colorido com seus dispositivos eletrônicos à mão, enfim. Para os menos favorecidos, pode está apenas em uma cama com um bom colchão para restaurar as energias.

As ofertas são várias, como vários são os montantes em dinheiro e “facilidades” a longos prazos para concretização do “Morar Bem”.  Outros fatores pesam no momento da escolha, por exemplo: o local, a vizinhança, segurança, transporte público disponível, proximidade de escolas, supermercados, padaria, farmácia,  região silenciosa, enfim.  Estamos morando bem e seguros em nossas cidades? Acho que esta resposta ninguém pode afirmar positivamente nos tempos de agora.

Mas por fim o que era sonho e desejo de “Morar Bem” para suprir as  necessidade de exibir, de receber pessoas em casa, de aumentar a família... Com o passar dos anos fica tudo disperso e vem os  desencontros, a solidão, o vazio torna-se insuportável. Os filhos “voam”, os casais se separam ou ficam sós.  O significado de "morar bem" continua a se modificar.

Chega a última parte da vida e precisamos diminuir os espaços e as coisas,  desfazer, procurar a essência, jogar fora, desocupar para um livre viver,  finalmente. Daí, "morar bem" pode significar o menor espaço possível, ficar apenas com o essencial, os retratos, os bons livros, as lembranças das viagens, os móveis estimados, as relíquias. Podemos nos contentar  até mesmo em mirar uma parede branca, com ou sem texturas,  sem quadros, sem retratos,  simples assim. É quando fica claro que não precisamos realmente de muita coisa. Nada muito além de um cantinho onde possa descansar o corpo, apascentar a alma e permitir-nos um voo sereno em reminiscências da vida que foi e sempre será o nosso “Morar Bem”.


J. Carvalho – 27.02.2014

20.2.14

O Amor em Tempos de Facebook


Publicado em 


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Você olha para o lado e no muro mais uma frase romântica pichada. Sorri feliz e até tira uma foto, o amor está lá, pintado no muro e emocionando quem passar por ali e ler. O amor está escrito no papel da bala, com frases curtas e incríveis e parece o suficiente. No adesivo do carro com corações vermelhos. E agora, ele também está lá, publicado no seu mural todos os dias. O amor está sendo divulgado em frases mal elaboradas à espera de mais uma opção curtir, de mais um seguidor. Em tempos onde todos viraram poetas e discípulos do romantismo, o amor se perdeu de vez num emaranhado de palavras que, juntas dizem menos do que separadas. E ‘eu te amo’ é frase que se compra e se vende mais barato do que pastel de feira. Antes o amor era cafona, agora o amor é plágio. Vem cá, onde foi parar o amor mesmo? Do luxo ao lixo. Saiu dos corações, dos beijos molhados, das surpresas e das mãos dadas para virar politicagem barata em redes sociais. O amor está em promoção! Curta um e leve dois. A nova aliança é ‘me segue que eu te sigo’ de volta. O romance escorre nas palavras enquanto o computador está ligado, depois são lágrimas que escorrem no travesseiro sem ninguém perceber. E no dia seguinte, uma frase de Vinícius de Moraes publicada só para dizer ao mundo que você ama e é feliz. Quando na realidade não sente um beijo de verdade faz um bom tempo. Tão acostumados a escrever, nós deixamos de dizer. E quanto menos se diz sobre o amor, menos se sabe sobre ele, menos se vive e muito menos se sente ou faz com que o outro sinta. Amar não é só escrever que ama. E se quiser digitar uma poesia, faça isso com seus dedos em minhas costas, por favor! Pior do que se ajoelhar virtualmente e declarar o amor para milhares de amigos que você sequer cruzou nos corredores do colegial ler, é aceitar aquelas declarações emolduradas por uma tela de computador, com palavras previamente ensaiadas, com pedaços de músicas se encaixando perfeitamente, vírgulas nos lugares exatos, reticências poéticas e uma concordância escandalosamente perfeita num exagero beirando o precipício. O amor escrito minuciosamente. Ali, perfeito e entregue de bandeja. E você aceita essa bandeja sem questionar e sem lamentar que não pode segurar ela com as mãos. Pior é acreditar em parágrafos que circulam em Ctrl C + Ctrl V e se sentir especial. Se o amor fosse uma pessoa, com toda certeza iria encher a nossa cara de porradas e cobrar ‘que porra é essa que vocês estão fazendo comigo?’. O amor virando palhaço de circo e a gente aplaudindo. O amor na vitrine e a gente se contentando em só olhar. O amor que antes era uma linda e natural flor, com cheiro e textura, agora virando flor animada em GIF, coberta de glitter. Me diz, cadê o toque? Onde estão os ‘eu te amo’ sussurrados ao pé do ouvido? As declarações mal feitas, acompanhadas de olhares apaixonados com medo de falhar? Onde estão os arrepios e o perfume? Estão todos engavetados e esquecidos e a culpa é toda nossa, simplesmente porque nós não cobramos o amor na carne. Não exigimos o amor ao vivo, no último volume. Temos medo de encarar o real tamanho do sentimento, e então usamos escudos disfarçados de telas frias e filtros do Instagram. Se for por culpa da distância, tudo bem e a gente aceita declarações que ajudem a manter a lembrança de que o outro existe e ama. Mas faça isso com competência. Muitos querem uma grande estória de amor, mas poucos são competentes para isso. Se for virtual, prefira então as promessas. E principalmente, aquelas que se cumpram depois lá fora, no mundo real, onde a gente se olha nos olhos enquanto faz amor. Onde compartilhamos a saliva e o suor – e não apenas frases. O amor não pode ser descartável. O amor não pode ser assim, fácil de deletar. Bastando um backspace e o amor acaba. Bastando um ‘desfazer amizade’ e o amor some. Bastando uma tinta no muro e o romantismo sendo abduzido sem que ninguém note. Não! Queira do amor tudo o que ele pode oferecer. A voz, a pele, o gosto, o olhar e a dor. Viva e morra por amores profundos e reais. Sofrer por publicações é humilhante. Morrer de amor apenas por frases é decadente. Faça-me versos sim, me cante com poesias de Leminski e Drummond de Andrade. Eu não quero que as palavras morram. Mas, ao final delas, não me mande ‘beijos’ virtuais, desligue isso aí e venha até aqui me beijar.

Fonte: Benfazeja Revista Literária
Por: Camila Heloíze

11.2.14

A Luz Definitiva



Há milhões de milhas do Sol
Há algumas mil  milhas da Lua
Estamos aqui preparando a subida
Para alcançar alguma estrela
A nossa subida gloriosa em busca da luz definitiva.

Oh meu pai!
Oh minha mãe!
Original construção do amor que me trouxe
Numa noite, em um dia qualquer
Num momento sublime da vida.

Meu pai me ensinou os caminhos do futuro
Minha mãe me alertava e orava, minha proteção aos perigos,
Das curvas, das noites de escuro,
Dos anseios, medos e tempestades
Mas segui, venci e alcancei o bem até aqui.

Mirei no horizonte com o olhar dos sonhadores
Conquistei do meu jeito, terras, mares e amores
Amigos e novos irmãos alcancei
Apascentei conflitos e acalmei minh´alma
Dei um ritmo de paz ao meu coração.

Há milhões de milhas do Sol
Há algumas mil milhas da Lua
Sigo confiante nos desígnios da vida
Na certeza da bela passagem definitiva
De que todos nós por mais que desviemos
Nos curvaremos e abraçaremos esse  raio definitivo de Luz .

J. Carvalho