24.4.08

Fim de Comédia

A sinceridade
só começa quando se entende o mistério
da fraqueza humana.

Quando se sabe
que a misericórdia Divina
tem motivos para querer-nos
eternamente frágeis.

Quando aceita
a condição humilde de criatura
vinda do barro,
e ao barro voltada.


começam a cair as máscaras,
o palco se torna inútil
porque se pode, enfim,
ser fraco entre os fracos,
criatura entre as criaturas.

D. Helder Câmara

11.4.08

"O Beijo de DEUS"

Meus olhos viram, tantas vezes,
as mesmas coisas que os seus:
água, mata, estrelas, a beleza
repartindo-se entre o dia e a
noite, a morte, a pobreza.

Vibrou meu coração juntamente
com o seu, redescobrindo o mundo
pelo avesso.

Sentimos juntos a raiva
queimando nosso peito,
impotentes diante da tortura,
do fuzil, da prepotência.

Seguiram meus pés seu caminhar
e prosseguem agora abrindo um
caminho incerto.

Juntos, fizemos poemas nunca
escritos, e nem sabemos quais são
os seus nem os meus versos.

Aprendemos amar o mesmo beijo.
Tivemos sonhos comuns,
e comuns são nossos mortos!

Pe. Paulo Gabriel, do livro "O beijo de Deus",
o Evangelho de rua segundo Tio Maurício.

7.4.08

Eu Vi, Mas Quase Não Acreditei!

Eu vi, mas quase não acreditei!
Eu vi e quase chorei.
A princípio não entendi
e me esforcei para não fugir da imagem.

Eu vi sobre o lixão da cidade,
uma fotografia cruel;
Imaginei, uma ave, um urubu, um animal qualquer,
tentando encontrar algo para comer.

Mas ao me aproximar, meu Deus!
Alí vi que era um ser humano, um irmão qualquer,
um semelhante, buscando no lixo o alimento do dia,
para matar a sua fome, dos filhos e da família!

2.4.08

Um Outro Olhar

Um outro olhar devemos exercitar,
sobre a vida, sobre o outro,
sobre o todo;

Um outro olhar devemos inaugurar,
sobre a distância, a proximidade,
sobre o presente;

Um outro olhar devemos direcionar,
sobre o abandono, a indiferença,
sobre a falta de paciência e do
excesso de ignorância;

Um outro olhar devemos apontar,
reto, direto,sobre a arrogância,
a estupidez da falta, até saciar de lucidez o
agente que promove, e sobretudo, transforma e alimenta!

Um outro olhar devemos glorificar,
se for para melhorar a partilha,
alimentar o amor pela vida
e estancar de vez a sangria
na Terra, da insensatez da falta de amor.