30.8.07

Um Bela Reflexão ( FREI BETO )

Reli um texto do Frei Beto por ocasião da eleição de Paulo Maluf e Clodovil para compor o Congresso Nacional. E como pioramos de lá para cá. Basta lembrar os mais recentes casos do Senador Roriz(renunciou para não ser cassado e com esta manobra não perder direitos políticos) e o interminável caso Renan Calheiros, presidente do senado. O que me impressiona, sobretudo, é a atualidade desse texto e a sua validade ainda que alguns meses depois. A crítica à mídia brasileira na dissertação do ensaio, é rica e válida, para que possamos refletir e de alguma forma nos estimular a tomar atitudes na tentativa de mudar este paradigma.


... " Não é verdade que o povo não sabe votar. Não sabe é discernir, porque a mídia é despolitizadora, supostamente desideologizada. Em lugar de cultura, dá-nos entretenimento. Bruna Surfistinha atrai mais leitores que ensaios e romances de alta qualidade. Vendem-se mais revistas de futilidades, espelhos virtuais ao narcisismo frustrado, que de História e Ciências. O que esperar dessa parlamentação que faz de nossas tardes de domingo o Momento Nacional de Imbecilidade Geral? Que o leitor vote no Anônimo Crítico e Ético?

O Congresso é a cara do Brasil, país em que ainda hoje o coronelismo produz votos de cabresto e o exibicionismo anula juízo ético, como o demonstra o êxito de audiência do Big Brother. A mediocridade(a democracia da mídia)é muito mais poderosa que todas as nossas instituições políticas somadas. E nela predominam o efêmero, o vulgar, o episódio, a notícia fragmentada e descontextualização.

Não dá para mudar de povo. Não dá para mudar de parlamentares eleitos. Mas daria para mudar de mídia, desde que famílias e escolas, e sobretudo anunciantes, soubessem sintonizar as novas gerações em outros canais, nos quais a pobreza não fosse considerada um fato inelutável, a corrupção inevitável, a democracia econômica incompatível com a política.

Nosso olhar tende a ser moldado pela mídia. E esta pela ótica lucrativa do mercado. Só um novo olhar, respaldado na ética e na visão crítica da realidade, é capaz de se confrontar com o olhar hegemônico do Grande Irmão. Enquanto não rompermos a mediocridade dos conteúdos televisivos, a espetacularização da notícia sem contextualização histórica e política, as novas gerações chegarão à idade adulta acreditando que o mercado, como Deus, não admite ser contrariado; a propriedade privada é valor supremo; a partilha dos bens da vida, mera retórica anacrônica; a desiguldade social, uma fatalidade a ser minorada, jamais superada.

Assim, não me espantarei se, amanhã, o bandido Marcola do PCC, for eleito deputado ou senador. Collor, expulso da política por uma nação indiginada com a corrupção, voltou agora pela força das urnas. Cada governo tem o povo que merece, sobretudo quando investe em Educação menos de 4% do PIB e delega às mãos privadas, bens públicos, como rádio e a TV, sem exigir contrapartidas de interesse da nação".

Nenhum comentário: