5.1.10

Lya Luft ( Feliz 2010 )


O Ano de Pensar ( veja ed. 2146)


... "Pensar não é uma obrigação: é um direito e deveria ser um prazer.
Naquela horinha no ônibus ou no carro, andando, nadando, comendo,
não fazendo nada - o que é um luxo, e nós bobos, poucos saboreamos -
nada melhor do que deixar tudo de lado e refletir, ou deixar as ideais vagando
numa atenção flutuante, como dizia Freud. Largar a mão, por alguns instantes,
dos compromissos, do cansaço, da falta de tempo, da dificuldade em ser feliz,
da pouca harmonia consigo e com o mundo, das tragédias, das decepções universais
ou pessoais - e dar-se o prêmio de pensar.

...A essência seria esta: neste ano eu vou pensar. Em mim, na vida, nos outros, no mundo,
em mil coisas ou numa coisa só - que seja realmente importante.
Pensar para ser uma pessoa mais decente; pensar para amar mais e melhor, começando
por mim mesmo; pensar para votar com mais lucidez; pensar no que de verdade eu quero,
se é que eu quero alguma coisa - ou sou do tipo que se deixa levar pelo desânimo, pela preguiça
ou desencanto?...

...Acredito que apesar de Copenhague, o mundo não vai torrar (as opiniões dos cientistas divergem), que vamos ter motivo para nos orgulhar de nossos países, que não vai haver tanta miséria e cinismo, que colégios vão ensinar melhor e exigir mais em lugar de facilitar tão absurdamente e despejar tanta gente despreparada no mundo.

Sei que todos algum dia acordamos com a senhora desilusão sentada na beira da cama. Mas a gente vai à luta e inventa um novo sonho, uma esperança, mesmo recauchutada: vale tudo menos chorar tempo demais. Pois sempre há coisas boas para pensar. Algumas se realizam. Criança sabe disso. Feliz 2010!



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