16.9.10

Adélia Prado ( uma pérola)

Estava devendo aos meus leitores, algum texto de Adélia Prado, essa bela poeta de Divinópolis-MG, que produz conteúdos poéticos belíssimos na proposta de valorizar o universo feminino.


Com Licença Poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.

Aceito os subterfúgios que cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
--dor não é amargura.

Minha tristeza não tem pedigree,
já é minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu vil avô.
Vai ser coxo na vida e maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.


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