16.8.17

Hábitos



Nos acostumamos
a morar nos fundos
sem vista e entrada do sol
aí não abrimos janelas
aí acendemos as luzes mais cedo
Nos aocstumamos com vazio do bolso
com o vazio da alma
com o ar poluido
com o silêncio roubado
com a ausência do cantar dos pássaros
Nos acostumamos
com o deitar mais tarde
com o despertar de sobressalto
com a alimentação apressada
mal equilibrada e engolida as pressas
Nos acostumamos
a pagar por tudo e pouco receber
com a poluição do ar condicionado
com a poluição das ruas
nos acostumamos a não compreender
Nos acostumamos
com a morte e o odor peçonhento dos rios
com as bactérias na água potável
com a indiferença dos poderosos
com a ignorância dos fracos
Nos acostumamos
a não mais comer frutas no pé
a não mais curtir a doçura dos idosos
a ingenuidade e beleza das crianças
nos acostumamos talvez para não sofrer
Nos acostumamos
a não ter se quer um livro pra ler
a não ter uma planta para aguar
a distãncia dos filhos e netos
acostumamos às filas e aos maus jeitos
Nos acostumamos
por ter sono atrasado, contas atrasadas
atrasadas políticas e poderosos safos
nos acostumamos às feridas
a poupar a vida que se gasta de tanto nos acostumar
J.Carvalho

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