27.5.20

PEDRAS POR AFETO




 Cidade de Marmelópolis - Sul de Minas

Pedras por Afeto e as montanhas de Minas
Por: Carlos Starling
Estado de Minas
23/05/2020

Recebi um belíssimo vídeo protagonizado pelo mergulhador Neil Barreto onde ele, no fundo do mar, percebe a aproximação de uma enorme Garoupa.
Fica imóvel. O peixe se aproxima lentamente. Ele estende a mão e o acaricia. O peixe se deixa acariciar e parece também se deliciar! O encontro acontece na paz do fundo do oceano. A proposta de Barreto é Pedras por Afeto.
Sugere que apesar da distância entre as espécies, o carinho, a paz de espírito e a leveza nas relações é capaz de aproximar as mais distintas criaturas.
Seguindo o mesmo princípio, penso no ser que aterroriza o planeta neste momento. Penso nos segundos antes da migração transespecie feita para chegar até nós. Uma viagem de minúsculos seres primitivos com uma lógica própria e caótica. Reproduzir-se, manter-se, mutar e transformar os demais seres pelos quais vai passando é sua missão no universo biológico.
Certamente, tudo muito distante de qualquer lógica que habita nosso dia-dia. Mas, onde o afeto importa nesta história?!
O afeto é nosso, não do vírus. Ele apenas faz o seu papel de provocar alterações necessárias a natureza para que em algum momento o afeto seja percebido como necessário na fase consciente dos seres vivos.
Traduzindo, o amor é nosso e o vírus não tem nada com isto.
Mas, temos que admitir, que alguma coisa mudou em todos nós desde o princípio desta epidemia.
Ficar em casa e arrumar as gavetas da alma faz bem. Ao contrário da frenética velocidade da replicação viral, ficar parado nos permite perceber o barulho das bolhas de ar no fundo do oceano do nosso caótico jeito de viver. O mesmo ar que pode nos faltar ao encontrarmos com o ser que viaja pelas nossas inconscientes e inconsequentes atitudes.
No silêncio, o afeto pela mais primitiva das criaturas emerge e agradeço pela lucidez que pode surgir desta parada não planejada, mas que o destino fez que acontecesse.
Um mundo mais limpo, mais conectado pela música, mais afetuoso...
Onde estávamos há 2 meses atrás?! O que mudou neste período de quarentena?!
Para responder estas perguntas é necessário debulhar os símbolos quarentena…pedra...afeto.
Sim, entender o significado do hiato em nossas vidas e o presente que recebemos de um dos seres mais primitivos que sabemos, é trabalho que cada um pode fazer, na paz que só a solidão permite.
Mudar é a missão do vírus. Acordar o afeto que habita a profundeza da alma de cada um de nós, enquanto há tempo, é opção nossa.
Alguns colegas de várias regiões do Brasil e do exterior tem me perguntado o motivo pelo qual nossos dados epidemiológicos em Minas e Belo Horizonte, em particular, estão tão bem-comportados. Ás vezes, respondo de forma bairrista para provocar meu compadre gaúcho, Fábio Gastal : -Aqui, corona não pega carona...
Tento as mais diversas explicações, mas, cada dia me convenço mais que se trata do segredo das montanhas. Se não sabíamos para que servem nossas montanhas, agora sabemos.
Nossas jazidas de ferro e aço refletem a alma mineira. Não é à toa que sorrateiramente o mundo tenta levá-las. De vagão em vagão, vão desbridando nossas montanhas que as nuvens carinhosamente tentam beijar. Lembrando, que um dia fomos mar, hoje, pedras com afeto. Acariciamos nossas montanhas...
Mas, o que há de tão precioso neste chão de aço camuflado de verde exuberante?!
Aqui se esconde o segredo de Drummond e seu falso touro espanhol tomado. A genialidade das letras de Brant na cristalina voz de Nascimento.
Aqui, os grande Sertões e seus Buritis são o oásis onde brotou uma Rosa.
Em terra de Rei, Tostão e Maravilha, a cobiça é grande.
Tentam subtrair o que temos de melhor. Nosso jeito único de falar e até a formula mágica do pão de queijo!
Nossas montanhas são, na realidade um filtro contra a usura alheia. Barreira contra a insensatez, permitem ver ao longe ameaças e intempéries. Prudência de quem mira o Horizonte e esconde ouro em suas entranhas, cujo brilho é o olhar de cada um que habita esta terra. Aqui, gente é a gente!
Aqui é Minas, terra inconfidente e inconfundível, onde nascem os rios que lavam um país e inundam oceanos de esperança. Caminho lúcido do meio...
Somos montanhas, rios, vales e gente única.
Isto é Minas!




Um comentário:

Luiz Gomes disse...

Boa tarde João. Parabéns pela poesia e foto de Marmelópolis.Rapaz se aqui no Rio está frio imagino nas cidades entre montanhas de Minas Gerais. Desejo muita saúde para você e sua família.