29.3.11

José Alencar (1932 / 2011)

    Uma singela Homenagem
Creio que este poema de CDA, ilustra bem esse momento de perda enorme de todos nós mineiros e brasileiros. José Alencar demosntrou muita resignação e dignidade, sobretudo, uma enorme vontade determinada de viver e sobreviver durante esta década, servindo ao povo brasileiro, numa missão inspirada e grandiosa, como vice-presidente da república, empresário e homem de bem. Que os políticos de nossa nação se espelhem no seu exemplo de homem, empresário e político. Vá em paz José, sua missão foi cumprida!

Click no ícone abaixo e escute o poema declamado na voz do próprio Drumond.








José

E agora, José?

A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José?

Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José?

E agora, José? Sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio – e agora?

Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora?

Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse... Mas você não morre, você é duro, José!

Sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José! José, para onde?

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